segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Variedades espirituais


Buraco negro e minha estante




Carma
Houve muita mobilização com a foto do menino sírio, Aylan Kurdi, de 3 anos, morto afogado no Mediterrâneo. Seu irmão, de 5 anos, também morreu. O fato foi analisado sob todos os aspectos humanísticos, políticos, sociais, econômicos, afetivos. Eu, pessoalmente, não consigo olhar para a foto, passo batido. Talvez pela vivência com meus netos a imagem mexa no emocional de forma impactante... No entanto, logo que vieram as manifestações internacionais, os questionamentos da mídia sobre a pertinência e a ética da publicação da foto, e os resultados práticos imediatos de “tentativas” de solução para os imigrantes, compreendi que estávamos diante de um “case” cármico.  As pessoas gostam de olhar o carma sob o aspecto da reencarnação e, sem dúvida, os dois temas se interligam. Porém, há situações inexplicáveis, de grande comoção e repercussão que representam o significado cármico de algumas vidas. Este menino foi depositado pelos anjos, ali naquela praia, para cumprir sua função cármica: mobilizar o mundo para um tema assustador com o qual a humanidade se confronta atualmente: as hordas de imigrantes árabes que chegam à Europa fugindo de guerras. Impossível não haver uma resposta mundial diante daquele anjo dormindo nas águas. Inevitável a comoção dos organismos internacionais ao verem o resgate de seu corpinho no colo do soldado... Vida curta. Veio para isso, ser fotografado morto e viralizar na internet. Ele cumpriu sua missão. E o mundo vai fazer a sua parte?
Filmes
Assisti a dois filmes este fim de semana: “Interestelar” e “A culpa é das estrelas”. Ótimos. "Interestelar" nos coloca diante de enigmas da astronomia, física quântica, astrofísica. Assuntos que me fascinam! Ficção científica pura, abordando assuntos da ciência, sem respostas: viagens espaciais, buracos negros, buracos da minhoca, teoria da relatividade, tempo e espaço, vida em outros planetas e galáxias. Bom roteiro, no entanto, é preciso lembrar o tempo todo que é ficção onde tudo é possível. Confesso que gostei muito de pensar que por trás dos meus livros, entes queridos sugados pelo buraco negro da morte podem estar me mandando mensagens. Talvez por isso, ame tanto a minha estante... (Vejam o filme e vão entender do que estou falando).
Relutei muito para ver “A culpa é das estrelas”. Este assunto do câncer sacode minhas entranhas... Apesar de bem resolvida em relação a essa herança genética que me veio com muita força, fico hesitante. É como se dissesse para mim mesma: “Para que mexer nisso? Criei coragem e encarei. Bonito filme, sem melodramas. Dois jovens, aliás três, lidam com a doença de formas diferentes e interessantes. E ali encontrei também uma visão do carma: temos que viver bem cada momento para dar conta do que viemos aprender. Muitas vezes a vida nos surpreende mudando completamente as programações...
Netos
Esta semana meus netos da camada de cima, Luis Otávio (16) e Marco Aurélio (12) vieram almoçar comigo. Fiz uma suculenta polenta, prato que eles adoram! Nossos papos são fantásticos, o mais velho me mostrou um filme do you tube “Você sabe com quem está falando”, do filósofo Mario Sergio Cortella (https://www.youtube.com/watch?v=0YGB5u2u8kA). Maravilhoso ver o neto com quem sempre conversei sobre tudo me dando o troco com a dica deste filme que, com certeza, vou apresentar em sala de aula. O mais novo é fascinado por TI. “Vovó você sabia que pode ter o whats app no note book?”. Em menos de quinze minutos o “dispositivo” já estava instalado. Depois ele me contou que estão desenvolvendo um game em que o jogador usa um capacete, que, conectado ao cérebro, faz a pessoa fazer parte do jogo! “É mas só vai ficar disponível lá para 2020”, explicou, do alto dos seus 12 anos. Covardia! Perguntei a ele se já estavam pesquisando um capacete para gravar nossos sonhos. “Ah isso não, vovó!”. Eles se foram e a avó com fortes influências uranianas ficou aqui sonhando com a geringonça...
Gatos (de pelo)
Uma vizinha tem uma gatinha que se chama Valentina. De vez em quando ela me visita. Adoro! Mas não consegui conquistar sua confiança. Quando percebo que está na cozinha, vou pé ante pé e, invariavelmente, ela foge. Por via das dúvidas, passei a fechar a janela da cozinha toda noite. Acho que se Valentina pular na minha cama, de madrugada, terei um enfarte!

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Urano não está de brincadeira!

Das profundezas do sistema solar ele impulsiona mudanças

 
O atual trânsito de Urano em Áries impulsiona as transformações com base no imprevisível. Você vai por um caminho, planeja, fica seguro e, em seguida, algo totalmente fora do programado surge para alterar suas rotas. É assim mesmo que Urano atua. Ele tem a função de bagunçar tudo para forçar a reflexão e nos ensinar a construir novas soluções. Nessa hora, devemos parar um instante e liberar a resistência às mudanças. É o que chamo de criar soluções uranianas. Pense novo, pense novamente, pense com liberdade. Observe o que está acontecendo. Perceba que você já conhecia este enredo. Urano é o planeta que revela o conhecido. Aquilo que já sabíamos mas não queríamos enxergar. Então é a hora de sedimentar posições, assumir o comando e romper com padrões repetitivos e viciados. Mergulhar no novo? Não, abandonar o velho! Deixar a mente livre para novas descobertas que só virão se o antigo for embora. Quem sabe, viajar de avião em vez de ônibus? Esqueça o medo, chegue mais rápido! Não perca tempo, Urano não perdoa quem demora demais para se movimentar. Olhe em volta, o que pode ajudar a improvisar uma nova saída? Use! Seja um banco que vira mesa, um pote de vidro que se transforma numa linda jarra de flores. Qualquer coisa para não estragar o seu jantar.
É assim que vivemos atualmente, das coisas mais simples às mais complicadas estamos sob esta influência uraniana da imprevisibilidade. Política, economia, sociedade quem encontra alguma estabilidade? E a globalização ajuda o planeta Urano a espalhar sua energia por  todos os cantos. Acordamos e a China mexeu no Yuan causando desmoronamento de bolsas e patrimônios. No meio da tarde, a “Lava jato” indicia alguém muito importante e lá se vão nossas garantias políticas. À noite, estarrecidos, assistimos valores sendo virados de ponta cabeça nos noticiários locais, nacionais e internacionais. É Urano, o astro da revelação, do imprevisível. O bagunceiro do zodíaco! Mas fala sério, alguma dessas verdades que surgem a cada instante são novidades? Corrupção, instabilidade do sistema capitalista, manipulação do poder são surpresas? Não! Tudo está aí debaixo de nossos olhos. Urano apenas puxa o véu e aponta o óbvio. E agora? O que fazer?
O melhor a fazer é aproveitar a energia de Urano, enxergar as crises, assumir responsabilidades e partir para as ações que vão mudar o planeta. Vem de dentro de cada um e pode ser de grande importância para o todo no qual estamos inseridos. A palavra de ordem é coragem! Urano em Áries pede ação rápida, inovadora, consequente e responsável. Não perca tempo, vai lá e muda o mundo!
 
 


sexta-feira, 24 de abril de 2015

SERGIO MACHADO - um psicanalista que trafegou pelo sagrado

Sergio Machado voava alto e era preciso como uma águia
 
 
A transcrição desta entrevista é uma homenagem ao meu amigo, psiquiatra e psicanalista do Rio de Janeiro, Sérgio Machado, que nos deixou esta semana, na quinta feira, 23 de abril, dia de São Jorge, para fazer juz à sua índole guerreira. No início dos anos dois mil, ele e a mulher Marilda construíram uma belíssima e aconchegante propriedade no alto do Caledônia de onde, durante alguns anos, apreciaram e admiraram junto aos filhos e amigos uma das mais belas vistas de Nova Friburgo. Eles pretendiam fincar raízes na cidade para morar e clinicar. A vida não permitiu. Num fim de semana, Sergio, gentilmente, recebeu meu (então) aluno Max Wolosker , hoje jornalista e colunista para uma simpática conversa sobre suas experiências profissionais e de vida. O que na época era uma atividade acadêmica, hoje se transformou num registro biográfico que me orgulho de publicar em meu blog.
 
Curiosa é sua caminhada ao longo da vida. Nos idos de 1964, Sergio formou-se em Engenharia Mecânica, na UFF, mas somente em 1977, na Faculdade de Medicina da UFRJ), é que concluiu o curso de Medicina. Talvez, estes dois cursos tão opostos em sua essência, sejam uma amostra de sua personalidade irrequieta e aberta. O psiquiatra destaca-se no tratamento de pacientes portadores de síndrome do pânico, depressão e no acompanhamento a portadores de câncer. Mas, aponta como uma de suas atuações mais marcantes, o trabalho realizado junto à mãe de santo Marlicene Figueiredo que redundou na fundação do Instituto São Cipriano, em Campo Grande, no Rio - hoje, uma ONG - que cuida de meninas entre sete e dezessete anos, oriundas de favelas da região de Bangu, Campo Grande e Santa Cruz, visando tirá-las da prostituição. Além de atendimento básico de saúde, em ginecologia e clínica médica e apoio psicológico, o instituto ministra cursos profissionalizantes e faz com que elas freqüentem a escola com regularidade. Sérgio tem também trabalhos publicados, dentre os quais destacamos “Manejo de situações clínicas difíceis”. Com certeza, as características mais marcantes de Sergio são seu alto astral, que o deixa sempre de bem com a vida; o bom papo; e a visceral ligação com a natureza, que direcionou sua escolha por Nova Friburgo.
 
Sua vida acadêmica começa na Engenharia Mecânica. O que o levou a essa primeira escolha?
Sempre gostei de mecânica, desde menino montava e desmontava carrinhos. Meu avô paterno era engenheiro e meu pai sempre quis ser engenheiro, era seu sonho. Mas em função da guerra de 14, meu avô que trabalhava numa empresa alemã, perdeu dinheiro e meu pai não pôde estudar.  Acabou sendo bancário e morreu bancário. Depois que eu terminei meu processo de análise, concluí que a engenharia que cursei, foi para ele e não para mim. Para você ter uma idéia, no meu descanso dos estudos para o vestibular de engenharia, lia a História da Psiquiatria, de Frans Alexander, com a qual me divertia. Seis anos após a formatura de engenharia, recebi um comunicado do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) me informando que estava exercendo a profissão ilegalmente. Isso, porque entreguei o certificado de conclusão da faculdade para o meu pai - que ficou orgulhosíssimo -, mas me esqueci de registrar o diploma!
 
O que o motivou para uma mudança tão radical, da Engenharia para a Medicina?
Acho que sempre tive essa queda pela medicina, apesar de não ter consciência disso. Na realidade, a única consciência que tinha era que estava muito infeliz como engenheiro. Trabalhava muito, era o que hoje chamamos de workaholic. Em 1969, estava numa obra em Santa Catarina, na hoje famosa praia de Garopaba, quando comecei a ter dores de cabeça insuportáveis. Fui transferido para o Rio onde diagnosticaram uma meningite tuberculosa. Tive de ficar um ano e meio parado, sendo que três meses praticamente isolado, para fugir de estímulos sensoriais, principalmente, som e luz. Durante esse longo período, tive tempo para pensar e cheguei à conclusão de que a doença tinha sido uma tentativa de suicídio bem sucedida. O Sérgio Machado que emergiu dessa situação, era uma pessoa completamente diferente que, entre outras coisas, abandonou a engenharia e decidiu ser médico.
Quantos anos você tinha, quando fez Medicina?
Fiz o vestibular com 34 para 35 e terminei a faculdade com 40 anos. Para se ter uma idéia de como o meu objetivo era mesmo a Medicina, estudei três meses e passei em décimo nono lugar na UFRJ. Para Engenharia, tive que fazer quatro vestibulares.
 
O que o levou à psiquiatria e à psicanálise?
Acho que a medicina e a psiquiatria vêm de berço, é como o dom da música. A ligação com a psicanálise começou na época em que larguei a engenharia, pois minha família e meus amigos diziam que eu estava completamente louco e deveria fazer análise. Logo eu que sempre tive muito medo (e continuo tendo), de psicanalistas (risos)! O internato, no sexto ano de medicina, já fiz em psiquiatria, depois cursei dois anos de pós-graduação que me deram o título de especialista. Paralelamente a isso, fiz cinco anos de formação analítica. Só que hoje, faço psicanálise do meu jeito, o que me fez sair da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro. Na verdade, acho que nem deveria ter sido aceito, pois minha atuação (inclusive receitando medicamentos), não se enquadrava com as diretrizes da sociedade, dirigida para quem gosta da política e da produção teórica psicanalítica. Eu gosto mais de clínica, de doença, tenho uma conduta mais realista, muito diferente da que se procura num analista padrão.
 
Misticismo e Psiquiatria têm algo a ver? Você tem alguma religião, professa alguma crença?
Acho que tem tudo a ver porque tem muito místico doido; e muito psiquiatra místico; e que não sabem. Eu não tenho nenhuma fé religiosa, embora trafegue pelo sagrado.
Como foi seu envolvimento com o Centro São Cipriano, da mãe de santo Marlicene?
Eu tinha um terreno ao lado do centro de umbanda da Marlicene que estava com problemas burocráticos. Um dia fui lá para resolver estas questões e meu empregado sugeriu que eu fosse ao terreiro vizinho para ver se havia envolvimentos espirituais nas dificuldades que enfrentava. Apresentaram-me à Marlicene e ela perguntou se eu era médico, pois atendera uma moça que passava mal e o caso era para médico e não para mãe de santo. Eu a examinei e vi que estava delirando, em franca crise psicótica. Mandei comprar medicamentos injetáveis que, depois de aplicados, me obrigaram a esperar para aguardar o resultado. Quando descobriram que eu era médico, até a psicótica melhorar, fiz sete atendimentos. Marlicene me disse que eu tinha o dom da cura e perguntou se não gostaria de trabalhar lá, como médico. Eu topei e foi assim que tudo começou.
Quer dizer que você é um dos fundadores do atual Instituto São Cipriano?
Sim e tenho muito orgulho de ter começado este trabalho. O início foi curioso, engraçado mesmo. Como não tinha consultório lá, era obrigado a atender no meio do terreiro com um grande altar sincrético ao fundo. Por respeito, tirava os sapatos; por ser médico, andava de branco. Desse modo, entre um médico e um pai de santo, a diferença era muito pequena. Mas no centro, minha palavra passou a ter um peso muito maior que no meu próprio consultório, afinal dava remédio e ainda estava na frente do altar (riso)
 
Como era sua relação com os pacientes no centro da Marlicene?
O mais importante era o diferencial do tempo do atendimento. O paciente esperava muito menos para ser consultado do que num ambulatório público. Além disso, tinha tempo de conversar e contar seus problemas. A consulta não tinha nada de psiquiátrica, psicanalítica ou esotérica, apenas o cara saía dali se sentindo uma pessoa tratada com humanidade. Isso se refletia no tratamento, os medicamentos eram mantidos e, com isso, os sintomas melhoravam.
 
Como era o trabalho no centro São Cipriano?
Começou com atendimento médico e, quando se fazia necessário, encaminhava pacientes para colegas de diversas especialidades. Muita gente que freqüentava o centro, conseguiu tratamento dessa forma, o que seria impossível por conta própria. Aos poucos, levei para lá vários amigos engajados em trabalhos sociais e começamos a estudar um meio de tirar as crianças da rua. Basicamente, as meninas, pois é mais fácil lidar com elas, por serem mais dóceis e cordatas.
 
Como é o entrosamento profissional de um médico com uma mãe de santo? Quem ensina a quem, ou ambos saem ganhando?
Acho que saí lucrando mais do que ela. A Marlicene é uma pessoa fora de série, com uma experiência que não sei de onde ela tira. Aprendi muito com ela que, inclusive, já escreveu livros, discute sobre mecânica quântica, fala sobre filosofia. É impressionante, em qualquer assunto, dialoga com a maior tranqüilidade, apesar de ter cursado apenas o normal. É uma pessoa fantástica e, hoje em dia, uma mãe de santo light. Isto porque o enfoque dela também acabou mudando muito. Por exemplo, ela parou com o sacrifício de animais nos rituais que, atualmente, são feitos apenas com comidas.  Como geralmente faz-se muito mais quantidade do que o necessário, o que sobra é repassado para os asilos, abrigos e orfanatos da região. Na realidade, quem saiu lucrando mesmo foi a população de Campo Grande, pois lá havia carência de tudo e o Instituto São Cipriano veio preencher algumas lacunas e se transformou num centro comunitário com uma grande preocupação social.
Você tem algum caso pitoresco ocorrido no centro São Cipriano?
Lembro especialmente de uma festa de natal que foi tragicômica. Na época, tínhamos 180 crianças e, através de jantares com amigos, arrecadei dinheiro e compramos 400 brinquedos. Aluguei uma roupa de Papai Noel com cajado, saco e tudo e, naquele verão infernal de Campo Grande, me vesti na casa da Marlicene, que era perto do Centro. Quando atravessei a rua, dei de cara com um menino e sua expressão de espanto e felicidade, ao ver Papai Noel em pessoa, ficou gravada em mim até hoje. Mas o fato é que a festa foi um fracasso. Espalhou-se pela região que o bom velhinho ia distribuir presentes no centro e, de repente, apareceram umas mil crianças. Elas invadiram o local e me vi com o cajado na mão gritando: “Saiam seus pestes, fora daqui!”. A coisa foi complicada, pois tivemos de comprar balas e biscoitos para atender à demanda excessiva e eles reclamavam que os amigos tinham ganhado presentes e eles não. Ninguém obedecia, pois eu era um simples Papai Noel bem vestido, cujo código não era o deles. Lá, era um centro espírita, de umbanda, cuja festa maior é Cosme e Damião, o símbolo que eles respeitam e obedecem. Aí eu prometi a mim mesmo não fazer mais festas de natal e sim colaborar com a de Cosme e Damião, que são organizadas do jeito deles, maravilhosas, ordeiras, direitas e bacanas.
 
Você pensa mesmo em se mudar definitivamente para Nova Friburgo?
Se Deus me ajudar, venho. Há trinta anos atrás, tive um sítio em Macaé de Cima, por quase 14 anos. Aquele lugar é um sonho, mas por uma série de circunstâncias, acabei vendendo. Em seguida, tive um outro, em Rio Bonito, perto de Lumiar. Depois comprei uma propriedade em São José do Vale do Rio Preto, onde passei os últimos anos, um lugar também muito bonito, mas que era quente no verão. Friburgo sempre ficou no meu coração. Gosto de mato, de verde, do contato com a natureza, de frio, de acordar cedo e sair para caminhar. Isso tudo é o que não falta por aqui! Tenho um jipe vermelho e ando por esse mato todo. Aqui perto há uma cachoeira e tenho o privilégio de tomar banho, vendo a cidade lá embaixo. Meu sonho é vir morar aqui, definitivamente. Por enquanto, pretendo subir na quinta à noite e descer na segunda à noite. Desse modo, daria para abrir um consultório aqui e manter o do Rio. 
Você como psiquiatra lida muito com a síndrome do pânico? O que é essa síndrome, tão falada atualmente? Seu diagnóstico é difícil?
Hoje em dia, no consultório a grande maioria dos casos é de pânico ou depressão. Se bem que penso que quem abre um jornal hoje e não fica deprimido, ou em pânico, não é normal! Mas, Campo Grande me ensinou muito, pessoas que há 20, 30 anos atrás eram diagnosticadas como portadoras de ansiedade generalizada, hoje seriam enquadradas na síndrome do pânico. Na minha opinião, o que caracteriza o pânico é que ele se manifesta independentemente de qualquer estímulo externo. Por exemplo, quando você perde um ente querido, pode sobrevir uma depressão reativa - que é até esperada. Ou então pode surgir uma depressão fóbica, não reativa - que é um quadro psiquiátrico. No pânico não. O indivíduo está dirigindo o seu carro e, repentinamente, tem um troço - talvez uma descarga violenta de cortisol - que causa taquicardia, falta de ar, medo de perder o controle e de morrer. Ele larga o carro no meio da rua e sai correndo. É atendido num pronto socorro, taquicárdico, mas com pressão arterial normal que melhora com um medicamento benzodiazepínico, relaxante. A partir daí, o cara começa a ficar com medo do medo. Para mim o pânico é isso, você não tem nada prévio e, subitamente, se desencadeia uma situação como essa. Acho que ele está associado a uma condição fóbica e, como toda fobia, a um quadro depressivo subjacente. Portanto, é tratável com antidepressivo.
Já que você falou em depressão, qual a diferença entre depressão e angústia?
Essa é uma pergunta capciosa, porque é difícil diferenciar as duas. Geralmente, a depressão vem acompanhada de pensamentos negativos, o paciente acha que nada vale a pena, nada vai dar certo, que o melhor é morrer mesmo. É um processo mais de alma. A angústia está mais ligada a algo existencial, é mais filosófica. O fato de estarmos vivos hoje, produz angústia.  O governo que temos, a fome na África, a violência no Rio de Janeiro são causas de angústia e não de depressão.
 
No caso do câncer, a própria doença leva à depressão ou ela surge em função do tratamento?
As duas coisas. Já vi portadores de câncer se tornarem mais espertos ao receber a notícia e reagirem de uma forma fantástica. Assim como já presenciei portadores de câncer deprimir gravemente, diante da ameaça real que estão sofrendo. Nesses casos, é preciso ajudá-los a lidar com essa situação. O uso de antidepressivos, desde que venha junto com a psicoterapia, tem um efeito muito bom. Só acredito no antidepressivo, sozinho, nas depressões maiores, endógenas. Acho que não existe uma relação direta entre câncer e depressão. Apesar dos quimioterápicos reduzirem a taxa de serotonina, nem todos os pacientes passam por esse quadro.
Você é casado, tem filhos? Fale um pouco de sua vida familiar.
Tenho cinco filhos, dois do meu primeiro casamento e três com a Marilda. Na verdade, eles são meus enteados, mas como estamos juntos há mais de trinta anos, os considero como meus filhos, também.
 
Você tem algum projeto, além da medicina?
Um projeto que já estou realizando, com a ajuda do jornalista Silvio Ferraz, é escrever minhas histórias, afinal com minha idade, já posso olhar para trás. Só pretendo parar de trabalhar quando morrer, gosto muito do meu consultório. Aliás, outro dia aconteceu um caso engraçado. Tenho um paciente esquizofrênico que é muito boa gente. Ele estava na sala de espera e eu atendia uma freira, levada por outra religiosa, com uma profunda depressão. Quando a consulta terminou e abri a porta, ele viu as duas freiras, de hábito, indo embora. Ele entrou e me perguntou: “Pô Sérgio, será que eu piorei muito? Saíram mesmo duas freiras daqui?” Quando eu confirmei que sim ele indagou: “E freira vai a psiquiatra?”
 
Max Wolosker

domingo, 8 de março de 2015

No dia internacional da mulher, a Imperatriz


Hoje quem escolheu a carta do tarô fui eu. E não podia ser diferente, é o dia de reverenciarmos o feminino, o yang, o intuitivo que há dentro de cada uma de nós.

A imperatriz é aquela que dá a luz. Sua criação é expressa de forma concreta através da maternidade. Em seu ventre encontra-se a produção de algo que vai nascer de verdade.

Ela é a soberana, de personalidade forte, que governa seus territórios. É o yin manifesto, concreto, prático. 

Seus aspectos positivos são a fertilidade, criação de ideias, extroversão, paixão, desejo. No jogo ela é a consulente que consulta o tarô e também as outras mulheres em sua vida – mãe, amigas, filhas. 

A face negativa desta carta nos mostra a prepotência feminina, abuso de poder, arrogância, falta de feminilidade, futilidade, negação das emoções e dos desejos sexuais.

Qual dessas mulheres queremos ser? Qual das energias do arcano da Imperatriz desejamos vibrar? No jogo da vida sempre há os dois lados e é o nosso livre arbítrio que determina os rumos de nossas escolhas. Seremos mulheres intuitivas, férteis, parideiras (de filhos, criações, ideias); fortes e sempre no comando de nossos territórios? Ou vamos desprezar essas possibilidades e deixar sobressair a prepotência, em vez da aceitação intuitiva; a futilidade no lugar da simplicidade; a repressão em oposição à liberação de nossos desejos?

Meninas, estamos no terceiro milênio! É o momento de equilíbrio entre as energias yin e yang. Ultrapassamos as guerras, litígios desnecessários. É hora de darmos o braço aos “nossos imperadores” e seguirmos em frente na direção de um trono duplo compartilhado de amor.

Aproveitando a oportunidade, lanço aqui um aperitivo de meu próximo livro, onde faço uma equivalência entre o tarô e o evangelho. É um presente para meus leitores!

FERMENTAR: A FUNÇÃO DA IMPERATRIZ
                                                                                             
Ele disse: “Como é o reino de Deus? A quem poderei compará-lo? Ele é como um grão de mostarda que um homem pegou e plantou no quintal. Ele cresceu, tornou-se uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus galhos.”
Ele disse ainda: “O reino de Deus é como o fermento que uma mulher pegou e misturou a três medidas de farinha, de modo que toda a massa ficasse fermentada.”


Dá para pensar, não é?

No dia internacional da mulher, a Imperatriz



Hoje quem escolheu a carta do tarô fui eu. E não podia ser diferente, é o dia de reverenciarmos o feminino, o yang, o intuitivo que há dentro de cada uma de nós.
A imperatriz é aquela que dá a luz. Sua criação é expressa de forma concreta através da maternidade. Em seu ventre encontra-se a produção de algo que vai nascer de verdade.
Ela é a soberana, de personalidade forte, que governa seus territórios. É o yin manifesto, concreto, prático. Seus aspectos positivos são a fertilidade, criação de ideias, extroversão, paixão, desejo. No jogo ela é a consulente que consulta o tarô e também as outras mulheres em sua vida – mãe, amigas, filhas. A face negativa desta carta nos mostra a prepotência feminina, abuso de poder, arrogância, falta de feminilidade, futilidade, negação das emoções e dos desejos sexuais.
Qual dessas mulheres queremos ser? Qual das energias do arcano da Imperatriz desejamos vibrar? No jogo da vida sempre há os dois lados e é o nosso livre arbítrio que determina os rumos de nossas escolhas. Seremos mulheres intuitivas, férteis, parideiras (de filhos, criações, ideias); fortes e sempre no comando de nossos territórios? Ou vamos desprezar essas possibilidades e deixar sobressair a prepotência, em vez da aceitação intuitiva; a futilidade no lugar da simplicidade; a repressão em oposição à liberação de nossos desejos?
Meninas, estamos no terceiro milênio! É o momento de equilíbrio entre as energias yin e yang. Ultrapassamos as guerras, litígios desnecessários. É hora de darmos o braço aos “nossos imperadores” e seguirmos em frente na direção de um trono duplo compartilhado de amor.
Aproveitando a oportunidade, lanço aqui uma equivalência que faço em meu próximo livro, ainda inédito, entre o tarô e o evangelho. É um presente para meus leitores!

FERMENTAR: A FUNÇÃO DA IMPERATRIZ
                                                                                             
Ele disse: “Como é o reino de Deus? A quem poderei compará-lo? Ele é como um grão de mostarda que um homem pegou e plantou no quintal. Ele cresceu, tornou-se uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus galhos.”
Ele disse ainda: “O reino de Deus é como o fermento que uma mulher pegou e misturou a três medidas de farinha, de modo que toda a massa ficasse fermentada.”


Dá para pensar, não é?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

De Cristina para Marias Gurjão




Quando eu era criança ela fez 15 anos. Sua festa foi registrada num jornal, cujo recorte guardei por muitos anos. Na minha adolescência ela abriu uma das primeiras butiques do Rio, na Prudente de Morais. Fui lá conhecê-la. A coincidência de nomes fez com que ela me recebesse e acolhesse com um humor especial. Constatamos que éramos primas distantes e ela falou: “Não dá para você mudar seu nome? É um péssimo negócio ser minha homônima. Sou boêmia, da noite, comerciante endividada... E além de tudo quer ser jornalista como eu?”
Quando eu era uma jovem que namorava e saía para passear pela noite carioca com meus amigos, ela abriu uma outra butique, no Leblon, ao lado do mais badalado restaurante carioca, o Antonio’s. Só que dessa vez resolveu dar seu próprio nome ao estabelecimento. Grandes confusões! Claro que a família e os amigos pensaram que eu tinha mudado de ramo e, provavelmente, assaltado um banco, para inaugurar uma loja naquele local! Foi aí que surgiu a frase que virou um mantra em minha vida:  “Não sou eu, é a “outra”.
Quando ela casou com Vinicius de Morais, acho que provocou a maior confusão homonímia (será que essa palavra existe?!) de toda nossa vida! Até um padre amigo de minha mãe ligou para saber se era eu! Se o casamento durou pouco, esse fato permanece vivo até hoje. Em tempos de facebook, de vez em quando, tenho que emitir o mantra para alguns alunos que encontram na rede informações de meu casamento com o poeta! “Não sou eu, é a outra”, digo para grande decepção deles que pensavam ter uma celebridade como professora!
Quando entrei no jornal O Globo ela casou com Roberto Paulino, meu colega e super amigo do Segundo Caderno, com quem aprendi muito do que sou hoje como jornalista. Jovenzinha recém-casada entrei no jornal um dia e todos me olharam de um jeito muito estranho. Até que alguém teve a coragem de perguntar: “O que aconteceu com seu casamento? Você casou com Paulino?” Às gargalhadas entendi o espanto da turma e respondi com o mantra: “É a outra”.
 Quando já estava bem, profissionalmente, repórter ativa do dia a dia do Segundo Caderno, novamente fui vítima da perplexidade dos colegas. “Você não estava em Portugal, como correspondente? Como está aqui agora?” “Não pessoal, não tenho o dom da ubiquidade! É a outra”.
Quando fui para o Caderno B do Jornal do Brasil assinar matérias pela primeira vez na minha vida profissional, usei o sobrenome do meu marido para me diferenciar profissionalmente da prima que era muito mais conhecida do que eu. Passei seis meses lá num profundo ostracismo até que um dia, abri o jornal de manhã e vi uma matéria assinada com meu nome de solteira! Acreditem, ela estava lá, novamente, me envolvendo em equívocos. Daquele dia em diante meu telefone tocava todas as vezes que era publicada uma reportagem dela, obrigando-me a proferir o mantra... As minhas, ignoravam.
Quando voltou de Portugal, minha homônima foi morar na Lagoa com meu colega de redação do Globo. Adivinhem onde? No prédio da minha mãe! Foi um tal de correspondência sendo entregue errada, porteiros confusos e o mantra vagando no ar: “não é ela, é a outra”, até que se mudaram.
Quando me mudei para Friburgo com a família, um dia minha filha caçula entrou em casa e me disse: “Mãe sabe aquela sua prima com o mesmo nome seu? Ela estava no salão marcando uma hora para fazer as unhas.” Era o lugar que eu frequentava desde que chegara à cidade e corri para lá para saber mais informações. Era ela mesma, tinha um sítio perto da cidade e apareceu por acaso. Infelizmente não voltou na hora marcada e a perdi de vista. Em Friburgo?????? Demais não acham?
Quando me separei, anos depois, resolvi voltar ao meu nome de solteira e enfrentar as coincidências dali para a frente. Já estava muito velha para fugir do destino. Foi um ato de coragem, não só pela presença tão forte da prima no cenário social, como também por já ter um nome como jornalista e escritora. A família foi contra, mas insisti.
Quando abri o jornal naquele dia, menos de dois anos depois de minha separação, levei um choque. Um anúncio de morte com meu nome e sobrenome saltava aos olhos na página do obituário. Fiquei triste, ela partira cedo, não tivemos tempo de encarar os resultados dos nomes iguais... Nem preciso dizer que muita gente achou que era eu e telefonou para minha mãe e irmãos para ouvir o mantra: “Não é ela, é a outra.”
Quando isso aconteceu voltaram à minha cabeça as memórias de tantos caminhos cruzados, tantas situações engraçadas, tantas confusões desfeitas. Confesso que me deu uma certa nostalgia. Será que acabou? Até que um dia, entro no face da Ana Maria Ramalho e encontro um post a respeito do meu blog “Universo Paralelo” que dizia mais ou menos assim: “É estranho quando leio os textos dela. Mesmo nome, jornalista e escreve bem”. Era de Maria de Morais, filha de minha homônima. A história não acabara. Hoje somos amigas virtuais no face e esta crônica prometi a ela quando conversamos pela primeira vez. Aliás, prometi a mim mesma que um dia ia registrar nossa história.
Aí está Cristina Gurjão, para você com carinho de sua prima, Cristina Gurjão.