sexta-feira, 14 de abril de 2017

As três mestras

Páscoa é morte e renascimento. Mudanças são necessárias. Aí vai um texto que fala muito bem disso

O medo vem da consciência dos limites. E os limites só existem em quem tem consciência dual. Quando você tiver medo, avance. O medo é diferente da percepção intuitiva, que nos faz vencer os perigos. Medo é limitação. Então, quando sentir medo, é sinal de que tem de enfrentar uma prova. Avance. (...) O medo vem da ilusão de que as coisas são estáveis e sofrem o risco de deixar de sê-lo. A estabilidade não existe. Nada é estável. Tudo é movimento. A Terra em que pisamos é uma nave em alta velocidade. O poder da dualidade reside na ilusão da estabilidade. O pólo dual crê que existe. Pensa-se estável. O pólo oposto também. E ambos julgam que o outro é uma ameaça à sua estabilidade. Então se repelem e colidem. A ilusão da estabilidade é mãe da ilusão da dualidade.

Contra a ilusão da estabilidade, a divindade superior joga com Três Mestras; a instabilidade, a mudança e a imprevisibilidade. A instabilidade se ri das dualidades. Tudo passa e muda. Em vez de nos dar receio, isto tem que nos dar alento. É promessa de vida. São novos desafios. Provas de aperfeiçoamento. Força-nos à alquimia da consciência. Devemos ser gratos à instabilidade. Ela dá tempero à vida. É, em si, a essência da vida. É o divino mexendo seu jogo de marionetes para fazer-nos mexer. Ela é divertida. Por causa dela a vida é rica. Seria chato viver sem ela. Ela é a dança divina. Detrás do caos aparente, ela é uma melodia harmoniosa, tanto mais bonita quanto mais a escutamos. Não fique tenso por ela. São os dedos divinos nos tamborilando. Relaxe e divirta-se com a instabilidade. O iniciado descansa no movimento. Ele encontra a paz na própria instabilidade, à qual pede benção com entrega e confiança.

A segunda grande Mestra da dialética divina é a mudança. Ela é o renascimento contínuo. A eternidade se esconde na mudança. Não lhe tenha medo também. Deseje-a. Espere por ela como o amante espera pela amada. Ela é promessa de renovação. Se algo ameaça mudar, relaxe e aproveite, pois com a mudança, descobrimos mundos novos. Somos os atores de novas peças. Isso é divertido. As mudanças são sempre amigas, enquanto promessa de novas experiências. E toda nova experiência nos faz desaprender bobagens, se estamos despertos para ver e escutar seus ensinamentos.

E a terceira Mestra é a imprevisibilidade. Ela põe inseguros os egos. É a mais generosas das Mestras porque é o desconhecido. Deus está oculto do outro lado do conhecido. É sempre Ele que nos espreita do desconhecido. Por detrás desse véu, está o infinito, o divino, novos conhecimentos. Como então receá-lo? Espere-o com devoção. Entre nele de peito aberto. Cruze essa fronteira. É um passo a mais para perto da unidade. A unidade vem dos malabarismos das Três Mestras. Se as vemos como amigas, elas nos ensinam a unidade. (...)Por isso, confie nelas e entregue-se a elas de olhos fechados.

“A Viagem Interior”-  Francisco Boström