sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Peço licença para uma homenagem especial

Publicado no boletin da ANASC - Antigas alunas do Sacré Coeur de Jesus -, primeiro semestre 2016


Mãezinha. Era assim que nós a chamávamos. Talvez pela influência baiana da família, o que sempre causava alguns questionamentos, pois para cada um de nós, ela era “minha mãe”. Ah ela é só “sua” mãe, dos outros não? Isso numa família de sete irmãos, era, no mínimo, engraçado. Mas essa é uma marca importante entre nós. Cada um tinha, verdadeiramente, a “sua” mãe que nunca correspondia à mãe dos outros, quando conversávamos a respeito dela. Este é o retrato perfeito de Isis Gurjão – uma mãe diferenciada para seus filhos. Acho que deve ser assim com todas as mães, no entanto, só posso responder pela minha!
Seus defeitos e qualidades se desdobravam e ecoavam nos corações da prole de acordo com os diversos temperamentos com os quais lidava. Ela era brava quando precisava ser, doce nos momentos de dificuldade e complacente nas contendas (muitas) que nosso sangue Gurjão provocava. Nessas horas dizia, “Isso aí não é meu, esse sangue não corre nas minha veias!” Isso nos sossegava e acionava o DNA “ Miranda de Souza paz e amor”. 
Sábia. É a melhor palavra que encontro para destacar entre suas qualidades. E foi assim até os últimos momentos de lucidez, conduzindo a família pelos caminhos da ponderação. Mas a sabedoria era acompanhada de tenacidade e autoridade. Só fazia o que queria. Concordava, dava voltas, aceitava e na hora h sua vontade prevalecia. Isso nos enlouquecia, especialmente nos últimos anos quando queríamos assumir o comando para dar-lhe um pouco de descanso. 
Diante de algumas situações críticas, depois de tudo resolvido, descobríamos que a concordância era um blefe. Ela tinha seguido os próprios rumos, muito diferentes do que o combinado. 
Doce ouvinte dos problemas dos filhos e de todos que a procuravam para aconselhamento. Talvez por isso, tenha deixado muitos outros filhos pelo caminho que trilhou nos 93 anos de vida. Pessoas que a admiravam e consideravam como amiga e mãe. Posso citar algumas instituições onde atuou e deixou amizades profundas: Ação Católica, Associação dos Pais de Família do Sacré-Coeur, Movimento Familiar Cristão, Casa de Mater. Porém onde mais se destacou foi na “Associação dos amigos e amigas dos filhos” onde possuía vários fãs incondicionais que a seguiram até o fim, e, tenho certeza, a guardam no coração para sempre. 
Disposta, porém um pouco atrapalhada com tarefas e horários, especialmente em dias de festas, pois queria dar conta, sempre, de algo além de suas possibilidades. Nesses momentos se desequilibrava, reclamava, achava tudo um peso e nos fazia rir, ou chorar... Mas no fim tudo dava certo, trazendo alegrias para todos os envolvidos. As inúmeras festas de mãezinha sempre foram inesquecíveis. 
Mãos de fada para cozinhar e costurar era nessas atividades que passava todo seu afeto. Grande nutriz. Na cozinha reinava e seus quitutes, dos mais simples aos mais sofisticados sempre foram imbatíveis. Na costura, vestiu suas filhas e netas como princesas e se superou no casamento da filha mais velha quando foi responsável pelo vestido dela, da noiva e das seis damas – as outras irmãs.
Apaixonada pelo marido, que perdeu cedo, nos deu um grande exemplo de companheirismo e devoção. Eram um par perfeito, talvez por isso, impossível de ser copiado como a vida nos mostrou... O casamento complementou sua religiosidade e fé, estrada que prosseguiu sozinha sem baquear em nenhum momento dos mais corriqueiros, aos mais dramáticos. Todos que a conheceram sabem a força que sua fé católica imprimiu nos anos da doença de sua filha Beth a quem confortou até o fim. 
E é da soma de todos estes atributos maternais com quem cada um de nós conviveu que posso definir a grande e maravilhosa pessoa que foi a “nossa mãe”. Uma estrela que brilha no céu junto a todos que se foram e que deixou em cada coração uma enorme SAUDADE.