(...) “Nosso corpo traz a história do universo. Todas as células foram tecidas por moléculas feitas de átomos engendrados no Big Bang e cozinhados no calor das estrelas. Somos feitos de matéria estelar. Na intimidade atômica, cada partícula é também onda, como se a natureza risse de nossa lógica cartesiana incapaz de apreender que toda matéria, inclusive nosso corpo, é energia condensada.
Espírito não é algo que se opõe à carne, mas sua expressão
mais profunda e luminosa. É fantástico que a própria natureza, em trajes
bordados pela química e em baile ritmado pela física, tenha aflorado em seres
dotados de inteligência capaz de decifrar os seus enigmas e apreender seu
sentido.” (Frei Betto, Coluna Religião, O Globo, 19/06/2014)
Que bonito! Então quando alguém morre e dizemos para as
crianças que a pessoa virou estrela, estamos ensinando física quântica? Não há
nada de poético nem religioso nesta afirmação? Apenas ciência? A morte é uma transmutação
de um estado sólido para outros menos densos, até atingir as moléculas
estelares? Isto é uma consolação, uma simplificação, ou a derrubada total de
todos os conceitos por nós vividos em milênios de religiões? Estaremos mesmo
apreendendo os sentidos da natureza, através da inteligência? Então porque a morte
ainda é tão difícil de encarar?
Impossível voltar a escrever minha coluna, depois de quatro
meses afastada, sem refletir sobre a morte. Ela vem invadindo minha (e nossas) vidas,
nesse ano de 2014, de forma implacável. Foi sem dúvida o motivo de meu silêncio
nos últimos meses por estar mergulhada na escuridão do buraco negro que engole a matéria dos entes queridos que se vão.
Foram duas irmãs em menos de quatro meses. Uma muito doente trilhou a passagem
com coragem e muito sofrimento. A outra nos pegou de surpresa. Partiu sem
avisar, fora da (nossa) hora, impetuosa e devastadoramente. Não foi acidente,
mas um desastre! O barulho do Big Bang
de seu buraco negro ecoa até agora e
ainda não estou vendo as luzes estelares brilharem no firmamento... Verei,
tenho certeza. E junto com as irmãs de sangue verei também o resplandecer da,
quase prima, assassinada, subitamente no Rio e da colega de redação em O Globo,
Sonia Biondo. Que arrebatamento é esse que levou para as nuvens cósmicas
pessoas tão jovens? É certo que eram brilhantes e, talvez, já tivessem
ultrapassado a vibração do planeta terra. Quem sabe já não teria entendido e
decifrado os “enigmas” citados por Frei Betto?
Na política, assistimos o desaparecimento de Eduardo Campos
e sua equipe. Gente que pretendia transformar o Brasil, mas já estava em tempo
de “se transformar”... Será que essas energias, agora, estelares farão brilhar
também as estrelas de nossa bandeira?
Pois é pessoal, estou assim, cheia de perguntas e
conjecturas. Tentando apreender os indecifráveis enigmas da vida para me
conformar com o buraco negro da
saudade e acreditar que do lado de lá (dele), explode uma supernova cheia de energia estelar para iluminar a nós que ainda
estamos condensados na matéria.
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