Nada mais iluminado do que morrer no
auge da alegria. Essa foi a imagem que me veio à cabeça a semana toda. Aquela
equipe bradando com entusiasmo o hino do clube, braços para cima, pulando e
irradiando a vitória e o espírito coletivo. Não apenas os jovens, mas os
dirigentes experientes e maduros. Embarcaram todos, envolvidos nessa energia
contagiante de somos vencedores e vamos vencer mais uma. De repente o desastre,
a tragédia, morte e tristeza! Isso não pode ser por acaso.
Tristeza? Sim. A perda nos faz
tristes. Tão jovens com uma carreira pela frente e vidas cortadas. Será mesmo
assim? Mortes coletivas têm um sentido espiritual forte. Elas remetem a
reencontros cármicos da mesma origem e a necessidade de “devolver” algo à coletividade.
Desse modo, esses jovens não teriam uma trajetória promissora a viver. A
vitória desses espíritos era a alegria compartilhada e a própria morte trágica
comovendo o mundo. Se era isso cumpriram sua função nesta vida.
Não gosto de falar de missão, me soa
pesado, obrigatório, com sentido de cobrança. Função é prático, ação, exercício
do livre arbítrio. É o que viemos fazer no mundo da matéria. Cada um tem as
suas. Também não é uma só. São várias. A cada momento da vida nos defrontamos
com desafios que nos encaminham para o cumprimento de uma determinada função.
Como a equipe do Chapecoense, desde os dirigentes até os jogadores. E também os
jornalistas envolvidos na cobertura. Todos usaram o livre arbítrio para estar
ali, juntos, naquele momento que os levaria à imortalidade. A aceitação dos
cargos, a escolha dos jogadores, o empenho dos atletas, a competência dos
profissionais da imprensa. Tudo fez parte de um plano para que a função deles,
de irradiar alegria e mobilizar o mundo, se concretizasse. E fizeram tudo
direitinho.
Quem poderia imaginar que um time do
interior de Santa Catarina sacudiria o mundo com tanto impacto. A começar pela Colombia
que desencadeou o processo. Jamais
esqueceremos, foi lindo, emocionante. A
comoção colombiana também faz parte da função do carma coletivo vivido pelos
atletas, jornalistas e dirigentes. Eles nos lembraram que são nossos irmãos
latinos, mesmo sangue, mesmo território, da nossa família. Mostraram a
necessidade de união entre os povos coirmãos.
Quantas vezes nos esquecemos
disso... O Brasil tem uma grande responsabilidade nesse processo de união da
América latina. Quem viaja pelo continente percebe como somos amados, admirados
e bem recebidos. Será que correspondemos à altura? Somos orgulhosos dessa
posição e esquecemos os outros. A Colômbia nos mostrou o amor escancaradamente.
Função cumprida, turma do vôo interrompido!
Vamos pensar então no resto do mundo.
Todos os olhos voltados para o sinistro. Várias manifestações de atletas em
muitos campos de futebol, dos mais humildes aos mais famosos. A comoção com a
perda de tantos jornalistas na cobertura de um evento. Quando embarcaram
naquele avião, os passageiros não sabiam que trariam à tona questões tão
importantes para a aviação. Fiscalizações mal feitas, economia de combustível,
trapaças envolvendo a vida humana. E, ainda, a necessidade individual de uma
boa escolha na hora de escolher prestações de serviços.
Além disso, a tragédia foi uma pausa
e uma energia de união e solidariedade no momento conturbado que o país vive.
Esquecemos a dualidade e a bipolaridade e nos unimos na dor e no espanto. O
presidente foi ao gramado do Chapecoense para a cerimônia fúnebre, estava lá,
de pé, rendendo homenagens a um povo sofrido, realidade, talvez, muito distante
dele. É bom encarar a dor de frente.
Poderia ficar aqui enumerando muitos
outros fatos que constatam a importância dessas mortes trágicas e que
justificam a tese espiritual do carma coletivo. No entanto, prefiro ficar com a
imagem mais forte – todos partiram num momento de glória, decorrentes de
esforços pessoais. Suas mortes entraram para o inconsciente coletivo com o
reconhecimento de um trabalho positivo. Ninguém apaga isso. A “dívida” foi
paga. Muito bem paga. Sigam em paz espíritos de luz.
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