Sempre gostei de Natal. Família grande e muito religiosa era
uma data de grande alegria para todos nós. Meu pai passava todo o mês de
dezembro nos preparando para a festa. Dia 24 íamos à Missa do Galo, à meia
noite, na capela do colégio onde, nós meninas, estudávamos – o Sacré Coeur de
Jesus -, no Morro das Graças, nas Laranjeiras. Impossível esquecer aqueles
momentos mágicos. Nós arrumados com nossas roupas novas, pai e mãe orgulhosos
da bela prole, o colégio todo iluminado para acolher as famílias que
compareciam. A diretora e sua “vice”, nos esperavam no pátio de entrada da
capela, no alto de uma escadaria, que só era usado nessa ocasião. Tudo muito
solene e alegre ao som da música “Adeste fidelis”, marca registrada da ocasião.
As famílias iam chegando e ocupando os bancos da capela e nós, colegas, nos
olhando para observar as roupas, sapatos e, sobretudo, os irmãos meninos que só
víamos nas grandes festas. Era um grande clima de cumplicidade entre nós, repetidos a
cada ano como um ritual. Um breve reencontro, logo depois do início das férias
que se prolongavam até março. Depois da cerimônia, beijos, abraços e
confraternização entre os presentes que, diga-se de passagem, eram sempre os
mesmos.
Em casa fazíamos uma pequena ceia e cama, pois o grande ato
era no dia seguinte. Dia 25, quando levantávamos, a pilha de presentes já
estava debaixo da árvore (sempre um enorme pinheiro verdadeiro) magnificamente
decorado com enfeites colecionados de um ano para o outro e de várias
nacionalidades. Aí começava a tortura, José Gurjão acordava e sem dar a menor
bola para nossa ansiedade, com o propósito de prolongar ao máximo a deliciosa
espera da folia, fazia questão de preparar um café da manhã especial com todos
os filhos que iam aumentando, também, até chegar aos sete atuais.
No final, quando já estávamos “suplicando”, sempre com a interferência de nossa
mãe, começava o segundo ritual do Natal: a distribuição do presentes. A farra
durava umas duas horas entre gritos de alegria e agradecimentos pelos pedidos, sempre atendidos. Só se entregava o presente seguinte,
quando todos já tinham visto o anterior.
O terceiro ato era a festa, no final da tarde, que recebia
todos os parentes, tios, tias e primos para celebrar o aniversário de nossa
querida avó Boinha que morava conosco. E então nossa alegria se misturava ao
círculo maior dos familiares pela noite afora, numa troca amorosa que nos
abastecia por mais um ano de amor e afetos.
Tudo isso marcou minha vida e de todos os meus irmãos. No
ano em que perdemos nosso pai, fizemos questão de manter o natal em família. Dali
em diante, nossa mãe deu continuidade ao ritual, mesmo com os casamentos que se
sucederam. Em meu núcleo familiar repeti a tradição e as festas do dia 24 em
minha casa eram repletas da mesma energia que meu pai me transmitiu. Hoje,
tenho certeza que um dos melhores presentes que ele nos legou foi este
sentimento profundo do sentido do Natal, vivido o ano inteiro, e celebrado nos
dias 24 e 25.
Por razões pessoais e familiares, este ano, essas memórias
ficaram mais fortes e senti a necessidade de fortalecer o natal da minha
família – filho, filhas com seus maridos e netos. Domingo, fiz um almoço na minha casa,
chamei um Papai Noel de verdade para distribuir os presentes. Pedi ajuda aos
dois netos mais velhos para me ajudarem na realização do plano perfeito e me
deliciei com a felicidade dos pequenos! Foram momentos mágicos iguais aos que
vivi na minha infância. Como somos todos crianças, resolvi dividir tudo isso com
vocês... Feliz Natal!
Volta ao passado com a história ainda tão presente na memória: tia Isis, Velho Pai, vocês, Boinha, os agregados Full Moon e o Tatu e eu aguardando ansiosa que o Natal passasse logo para que fossemos para nossas férias em Petrópolis. Você sempre teve a outra parte da minha família, aquela grande e animada, que para mim, filha única, era o máximo! Obrigada cherie por me lembrar de tudo isso, hoje repetido na minha casa e na sua e na lembrança de nossos Natais, bjs! Maria Cecilia
ResponderExcluirQue bom que podemos reavivar boas memórias! Obrigada pela leitura e pelo carinho do comentário.
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