sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O "Grande Irmão" e as webcam




Quando li “1984” de George Orwell, há  anos atrás, o que mais me fez refletir foi sobre como aquelas câmeras de controle foram parar em todos aqueles lugares para que o “Grande Irmão” pudesse fiscalizar o mundo.
Para quem (ainda) não leu o livro – um clássico publicado em 1949 – é preciso esclarecer que a obra de ficção descrevia uma sociedade totalitária controlada por um só governante, o “Grande Irmão”, que controlava a vida de toda a humanidade, através de câmeras e telas (de televisão?) instaladas em todos os cantos, das repartições governamentais, passando por ruas, avenidas e estradas, até às residências particulares. A obediência às regras institucionais era obrigatória e fugir delas implicava em punições altamente sofisticadas elaboradas a partir de um método psicológico baseado no medo máximo de cada um. Orwell falava de guerras sem fim entre os continentes que se revezavam a partir de interesses comerciais e políticos. As mudanças constantes destas contendam eram anunciadas, incessantemente, para todos os habitantes, através do sofisticado sistema de comunicação.
Sem entrar nos detalhes da capacidade de Orwell de se adiantar ao futuro e prever uma sociedade bem próxima à nossa, há mais de sessenta anos, inclusive a intuição de um mundo globalizado, dividido entre três grandes potências e interligado por uma rede que ele sequer podia imaginar existir, vou me deter ao que me referi no início – a instalação das câmeras.
Minha pergunta começou a ser respondida no dia em que instalei a primeira webcam em meu computador. Parei e pensei: “Êpa, estou facilitando a rede do “Grande Irmão!” Sem paranoias, comecei a usá-la para falar com algumas pessoas, mostrar meus netinhos aos parentes ausentes, como um ser humano normal do século XXI. No entanto, nunca mais parei de pensar que estava vivendo o período de implantação das câmeras que Orwell retratava em "1984".
De vinte anos para cá, todos nós, da sociedade “pós-moderna” estamos implantando a rede do “Grande Irmão”. Em nome da segurança, comunicação, exibição pessoal e controle instalamos câmeras em todos os lugares. Praças pública, prédios de apartamentos, ruas, avenidas, estradas, escolas, universidade, e o que mais pudermos imaginar, estão expostos a equipamentos de gravação à disposição dos cidadãos, das instituições, do governo e da justiça. Pensem em privacidade, agora, e respondam se conseguem imaginar onde ainda a encontramos.   Corram, é lá que nos escodemos, é para lá que devemos ir. Isto se ainda der tempo...
No dia 10 de novembro, o jornal O Globo publicou matéria com o título “Sorria, você está sendo filmado” em que diz que no Rio há uma média de uma câmera a cada nove habitantes. A cidade conta com 700 mil câmeras de segurança. O mercado de segurança cresce 10% ao ano e está em franca ascensão. A reportagem discute a necessidade de um marco regulatório e os limites entre segurança e privacidade. Ao ler o texto com muitos exemplos e situações polêmicas sobre a instalação de câmeras é que me veio o sentimento de consentimento para o poder do “Grande Irmão”. Não sei se as profecias de Orwell se concretizarão em sua amplitude, mas tenho certeza que é tempo dos indivíduos começarem a se questionar sobre o quanto estão colaborando para isso. Confesso que há um limiar de permissividade e de impossibilidade de retorno do desligamento desta perversa rede que me assusta!
 

 

 

 

 


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