Olho-me no espelho e vejo um anjo. Do lado de lá uma fisionomia tranqüila, suave e bela me observa. Não me aborreço com os aspectos imperfeitos de mim mesma, pois eles parecem enevoados. As rugas, as bolsinhas debaixo dos olhos e a papada sobre o queixo que tanto me incomodam, desvaneceram-se. Até a barriguinha perdeu a nitidez. Por que será que hoje tudo que me perturba está tão sem importância?
Desço as escadas e vou preparar o café. Meus pés parecem que não tocam os degraus. Que coisa esquisita! Estou voando! Logo, logo chego à cozinha e num minuto me desincumbo da tarefa que, normalmente, leva uma eternidade. A realidade parece um sonho. Será que ainda estou dormindo? Só percebo o que, de fato, aconteceu, quando ao sentar para tomar a primeira refeição do dia, machuco minhas asas no encosto da cadeira. Gente, virei um anjo!
Imediatamente, ouço uma voz impertinente dizendo: “Virou um anjo não, este é apenas o seu “lado anjo” se manifestando. Ainda estou aqui, queridinha, para lembrar a você de algumas coisinhas.” Pronto, foi o suficiente para mexer com minha segurança. Os temores retornam como por encanto e um turbilhão de pensamentos densos me acometem. Subitamente, a vida volta ao foco e me recordo que estou no meio do mês e não tenho mais nem um tostão para pagar as contas! Ao mesmo tempo, me lembro que já estou atrasada para uma reunião importantíssima.
Corro para o banheiro para me arrumar e sinto um peso nas pernas. Ai essas varizes...Quando me olho, novamente, no espelho, me deparo com minhas rugas de expressão e penso que preciso marcar logo a consulta para acabar com elas. Mas, só entendo o porquê dessa repentina mudança de estado de espírito, ao tropeçar num estranho e comprido rabo na entrada do chuveiro. Meu Deus, virei um demônio!
Em vez de me assustar, assumo as rédeas da situação e digo para mim mesma que isto é, apenas, o meu “lado diabo” se manifestando!... E, praticando tudo que aprendi em minha jornada de autoconhecimento, aplico o único antídoto eficiente para encerrar a batalha entre anjos e demônios, quer sejam eles internos, ou externos: o equilíbrio. Respiro fundo, volto ao meu eixo, enxergo a realidade, simplesmente, como ela é e passo a viver o presente. Calmamente, escovo os dentes e ao levantar a cabeça, do outro lado do espelho, vejo uma mulher normal com a boca cheia de espuma: nem anjo, nem demônio!
Que texto lindo, Cristina!
ResponderExcluirComo é bom poder conviver com o anjo e o demônio dentro de nós e mostrar para ambos quem é que manda, afinal...
muito lindo parabéns expressão maravilhosa,atualmento muitos se sente assim e deixão de fugir da relidade
ResponderExcluir